segunda-feira, outubro 18, 2004 |
DOCAS
Não vos digo, nem vos conto. Eu e o Cutivo éramos os gajos mais velhos. De resto, estávamos rodeados por adolescentes. Não estava à espera, devo confessar.
Não vos digo, nem vos conto. Eu e o Cutivo éramos os gajos mais velhos. De resto, estávamos rodeados por adolescentes. Não estava à espera, devo confessar.
O primeiro a chegar foi o puto imberbe. Sim, estou a falar do g2. Veio «de skate pela Infante Santo abaixo», começou logo a contar. Com o balanço - e porque apanhou os semáforos todos no verde - conseguiu chegar às docas. Deu 25 cêntimos ao arrumador e lá estacionou entre um TIR e um Smart. Estava todo animado porque a escola tinha finalmente começado e tinha umas colegas jeitosas, «daquelas que têm piercings na língua e tudo». Era vê-lo todo eufórico e com os pensamentos próprios da idade em relação às moçoilas…
Por falar no belo sexo, eis que surgem quatro gajas acompanhadas por um tipo de cabelo cortado à escovinha: a Nena Bia, a Violas, a Chimeer e a Imaculada. Escusado será dizer que o tipo com ar de militar e com quase dois metros de altura era o Zé cutivo.
Esperámos mais um pouco e decidimos ir para o restaurante. Sentámo-nos e pedimos as entradas. Veio de tudo, desde ovinhos de codorniz a ovas de esturjão. Sim, porque nós sabemos tratar-nos. A acompanhar, umas flutes de champagne, do verdadeiro.
Estávamos nós a degustar o que nos punham em cima da mesa quando surgem o Priapo e a Fly-away. Vinham agarradinhos, ele com o seu metro e cinquenta e cinco por debaixo do braço dela. A Fly é grande e, com uns sapatos de trinta centímetros de salto, ainda fica maior. Estranhei foi os tons de azul que o cabelo dela tinha. Sim, porque o azul que utiliza tem, normalmente, tons mais escuros. Deve ser a moda de Outono, eu não percebo nada disso.
O Zé Cutivo - educado como sempre - ia sentar cada uma das meninas, puxando a cadeira e colocando-as, gentilmente, nos seus lugares.
Depois das entradas (tanto as que estavam em cima da mesa como as que cada uma e cada um fez no restaurante), decidimos optar pelo faisão e pelo espadarte, secundados por um vinho de 1960. Normalíssimo, diria. Ah, é verdade, foi antecedido por uma vichyssoise, que o dia estava solarengo.
Discutimos filosofia, a arte de bem receber e a Moda Lisboa. O costume.
Com o vento a soprar e a assobiar quando passava nas orelhas da Violas, as coisas até iam correndo bem. Excepto pelo facto de ocorrerem umas escapadelas a duas para a casa de banho. Nunca percebi esta mania de as mulheres irem juntas para os lavabos. Se fossem gajos, desconfiava logo que um deles iria ajudar o outro a sacudir, mas assim, não sei o que pensar…
A Imaculada estava a mostrar que os seus dezassete aninhos tinham sido vividos com toda a imaginação, uma vez que o piercing no umbigo e a tatuagem no pescoço eram mesmo para exibir. E ficavam-lhe bem, com a mini-saia e a barriga à mostra.
Já falei no g2 e nas suas ideias em relação às miúdas da idade dele? Pois…
A Nena e a Chimeer continuavam a discutir qual seria a melhor roupa a usar na vernissage a que iriam pouco depois. Não apanhei muito bem o que era mas ouvi falar nos Paços do Concelho e na Paula Rego…
Já falei no g2 e nas suas ideias em relação às miúdas da idade dele? Pois…
Ainda tentei escapar-me da emoção toda a que estava a assistir mas, como comprovam algumas fotografias, não consegui.
O Priapo, do alto da sua baixa estatura, não conseguia chegar à mesa e tivemos que pedir uma cadeirinha de bebé. Já o Cutivo, esse jogador de basquetebol, não parava de falar nas virtudes da tropa e do cabelo cortado rente, que era mais fácil de tomar um duche e não sei o quê, para evitar os hábitos subliminares que tinha de começar por lavar primeiro uma mão, depois a perna esquerda, a peitaça e por aí fora…
Foi um almoço bem passado, com a criadagem a não descurar a sua atenção em relação a nós e a encherem-nos os copos com toda a deferência que marca o sítio.
No fim do almoço, cujo início estava marcado para o meio-dia, eram já horas de jantar e foi um-ver-se-te-avias, com as miúda preocupadas com os vestidos que iriam usar à noite e o g2 a afiar os dentes e a enfiar a carapuça de Lobo Mau. O Priapo ofereceu boleia às convivas no seu Porsche e no carro de apoio (um Bentley), que trazia a criadagem. As miúdas aceitaram e o g2 pegou no skate e saiu rolando por ali fora. Isto, imediatamente depois de ter pedido os números de telefone às miúdas, claro.
O Cutivo guardou aquele objecto comprido que trazia na mão e foi também embora.
E eu apanhei uma gripe e fui para casa dormir. Valeu a pena.
Arrotos do Porco: