quinta-feira, outubro 07, 2004 |
De orelhas em pé - XVII
A TVI, como televisão privada, tem accionistas. Esses accionistas, provavelmente, terão outros negócios além da TVI. Se parte da programação da TVI interfere com os negócios dos seus accionistas, é legítimo que estes manifestem o seu descontentamento ao administrador, que fará o possível para equilibrar as forças presentes – por um lado, a deontologia dos profissionais de informação, por outro a preocupação dos accionistas. Nada disto é assunto, se se passar assim.
Acontece porém que Marques Mendes, considerando “lamentáveis” as “pressões” exercidas sobre Marcelo Rebelo de Sousa (fonte: Público), proferiu o seguinte: "Trata-se de um precedente grave e que nada tem a ver com a história do PSD". A ligação entre as pressões e o PSD é clara, e nada tem a ver com accionistas.
E de que pressões se está a falar? Atentemos nas palavras de MRS: "Na sequência de conversa da iniciativa do presidente da Media Capital, Miguel Paes do Amaral, decidi cessar, de imediato, a colaboração na TVI, a qual sempre pude livremente conceber e executar durante quatro anos e meio". Descontando a habitual fineza do autor, depreende-se sem grande margem para dúvidas que deixou de poder “ livremente conceber e executar”.
Face a tão graves acusações, o Governo mete os pés pelas mãos. Morais Sarmento tece considerações futebolísticas que o insultam mais que aos portugueses que julga enganar com tamanhas falácias. Já o testa-de-ferro desta campanha ignominiosa, Rui Gomes da Silva, ejecta pérolas de pura alucinação de cada vez que abre a boca. Veja-se:
"Nem o Governo nem eu próprio quisemos alguma vez calar qualquer tipo de comentário (…) Aquilo que disse e repito é que defendo que, em qualquer debate político, deve haver contraditório, pluralismo, para dar voz aos diferentes pontos de vista". Ou o Ministro é semi-analfabeto e não sabe a diferença entre comentário e debate ou está a tomar medicação que devia incluir advertência quanto a práticas governativas durante o tratamento. Ficamos a saber ainda que a sua interpretação de pluralismo refere-se às várias tendências dentro do seu próprio partido, já que convem não esquecer que MRS foi presidente do PSD, autarca eleito pelas listas do PSD e, presumo eu, ainda militante do PSD.
Quiçá incomodado com algum remoque de consciência, ainda tentou emendar a mão, abrangendo todo o espectro político. Garante que teria a mesma atitude "se um comentador durante 45 minutos e por anos a fio dissesse o pior possível das propostas da oposição". Pena é que se tenha esquecido de o fazer nos últimos quatro anos e meio, em que MRS atacou com a mesma diligência o governo PS (primeiro) e o governo de Durão e a oposição PS (depois). Pois é, sr. ministro, gindungo no cu dos outros é fresco…
Este episódio é apenas mais um, quiçá o mais visível, de uma longa série. Este governo quer agarrar-se ao poder que atingiu em condições de legitimidade discutível e tenciona fazê-lo controlando, tanto quanto possa, os meios de informação. Veremos se a nossa classe jornalística saberá fazer jus à sua fama de Quarto Poder ou dobrará obedientemente a espinha.
Arrotos do Porco:
Vai ser difícil este governo fascistóide descer mais baixo. A minha esperança é que eles entrem em guerra uns com os outros - com o Santana a assobiar baixinho - e que acabem por bater com os burros na água. Não me lembro de nenhum atentado à liberdade de expressão mais grave que este, depois do 25 de Abril. |
O Santana não tem mão nos seus ministros. Toda a gente sabe das suas fragilidades e ninguém o respeita. Eu nunca vi um governo a tantas vozes. |
O refugo da baixa política chegou ao poder. E chegou com artimanhas e golpes de rins. A legitimidade é obviamente nula. Tal facto é declarada ou envorgonhadamente reconhecida por uma boa parte dos votantes do partidoi no Poder. São uma corja de pequenos arrivistas, sem cultura suficiente sequer para perceber que mesmo o atraso civilizacional atávico do país não vai tão baixo ao ponto de tolerar abusos de poder fascistas e incompetência escandalosa a este ponto. Se o Presidente, apesar de ser um frouxo vergado aos interesses partidários e dos grupos económicos, deixar passar muito tempo até dissolver a Assembleia ou as facções minimamente civilizadas dentro do próprio PSD não votarem uma moção de censura, acho que a questão a discutir é a viabilidade institucional do Estado português. Nos meados do século XIX , após a a independência de Brasil e com a crise da Monarquia decadente esta questão foi acesa e frontalmente discutida. Era a chamada "Questão Portuguesa". A discussão não se limitou apenas aos meios intelectuais e envolveu o grosso da sociedade. Devemos re-editar a Questão Portuguesa, pois afinal de contas tem-se assistido a uma relativa alternância PSD/CDS/PS sem diferenças significativas, que é apenas uma dança das cadeiras entre as baixas elites. A quem aproveitará este abandalhamento tão argentino ou mexicano? Á verdadeira classe dirigente, que assim vai rapinando os portugueses. O Povo Unido Jamais Será Vencido. |
Eu concordo com o Austro. Ele provocou, explodiu-se a si próprio e agora vai recolher os dividendos candidatando-se a PR. |