quinta-feira, abril 08, 2004 |
SEXTA-FEIRA... EHR... POIS... QUINTA-FEIRA, MAS FAZ AS MESMAS VEZES...
ao Zé, a única pessoa (a modéstia impede-me de ajuntar "para além de mim") que até hoje eu gostei de ouvir a fazer sing-along com The Divine Comedy
Os Marillion, já sem o Fish, têm uma música chamada "Easter". Eu quero que os Marillion esfreguem as mãos à parede. A Páscoa não interessa quando à Paixão de Cristo se sobrepõe, no meu robusto coração, a Paixão pela mais bela canção do ano.
O novo álbum dos The Divine Comedy (e já vão ver que ainda faz sentido falar no plural), "Absent Friends", é excelente. Está muito acima do que foi o anterior "Regeneration". São dez canções e um instrumental, daquelas que só Neil Hannon tem a lata e o talento de fazer hoje em dia. Canções bonitas, despretensiosas, intensas e inteligentes.
Mas há uma que me levou a estar a pé até às 3 da manhã, ontem, e que hoje me fez programar o leitor de cd's para a manter no repeat durante uma hora. Chama-se "Our Mutual Friend". É um épico orquestral, uma canção "larger than life", com uma interpretação contida de Neil Hannon - o que não o impede de mostrar que tem uma das melhores vozes da música pop actual - e com uma letra que mistura um lado cândido e inocente com o humor corrosivo e com o único sentimento que podia justificar uma música assim.
Três quartos do meu amor por esta canção justificam-se pelo arranjo de orquestra de Jobi Talbot. O conceito de perfeição é qualquer coisa que tento gerir com parcimónia, mas este arranjo cabe lá dentro como nenhum outro. As cordas são atacadas com veemência enquanto os sopros arrastam lentamente a sua entrada, e a percurssão é discreta mas viva e marcante, seguindo a linha dos baixos mas com suficiente diferença de timbre para não soar "quadrado".
São 5 minutos e 57 segundos de beleza no seu estado mais puro. Quando a música acaba e começa a seguinte, "The Happy Goth", sinto uma revolta extraordinária, um desamor totalmente injusto pela música seguinte, e sou compelido a reouvir e reouvir e reouvir "Our Mutual Friend". Serei esquizóide?...
De qualquer forma, farei o melhor que puder para vos dar a conhecer, na língua de Ruben A. e de Maria Ondina Braga, mais uma pérola, e que pérola, esta, da lírica pop contemporânea.
Our Mutual Friend
No matter how I try,
É daquelas coisas inescapáveis
I just can't get her out of my mind,
Uma parte qualquer do cérebro que é auto-determinada
And when I sleep,
Uma parte que não dorme
I visualize her,
E que projecta imagens dela o tempo todo
I saw her in the pub,
Já a tinha visto num café
I met her later at the nightclub,
E encontrei-a depois numa discoteca ali ao pé
A mutual friend introduced us,
Fomos apresentados por um amigo comum
We talked about the noise,
Conversámos - ou melhor, tentámos
And how it's hard to hear your own voice,
Sobre a impossibilidade de conversar num lugar assim
Above the beat and the sub-bass,
Com a aparelhagem Furacão refundida a distorcer os graves
We talked and talked for hours,
Ainda assim conversámos, indiferentes a tudo
We talked in the back of our friend's car,
E continuámos a conversar na Kangoo do amigo comum
As we all went back to his place,
Que nos levou para casa dele prometendo cervejas e sandes de atum
On our friend's settee,
No pardieiro em que vive o nosso amigo
She told me that she really liked me,
Ela disse que lhe agradava estar comigo
And I said "Cool, the feeling's mutual",
E eu respondi "Ainda bem. Eu gosto de estar contigo, também."
We played old 45s,
Tocámos os singles que o nosso amigo lá tinha
I said 'It's like the soundtrack to our lives",
Eu disse "Não achas a voz do Pat Boone igual à minha?"
And she said "True, it's not unusual",
E ela respondeu: "Talvez, mas quem gostava dele era a minha mãe."
And privately we danced,
Dançámos os dois juntos
But couldn't seem to keep our balance,
Mas os tropeções eram mais que muitos
A drunken haze had come upon us,
Os vapores etílicos íam-nos dominando
We sank down to the floor,
Estendemo-nos no chão
And we sang, the song that I can't sing anymore,
E cantámos canções que não me lembro quais são
And then we kissed, and fell unconscious,
Mas lembro-me do beijo e de me sentir afundando
I woke up the next day,
Acordei no outro dia
All alone but for a headache,
Sozinho, e o que a minha cabeça zunia...
I stumbled out, to find the bathroom,
Cambaleei à procura da casa de banho
But all I found was her,
Mas encontrei-a a ela
Wrapped around another lover,
Enrolada na cama com o magricela
No longer then,
E a partir deste dia esse bandalho
Is he our mutual friend.
Que vá chamar amigo ao caralho
The Divine Comedy, Absent Friends
E pronto. Numa leitura pessoal, eu seria o corno, ela seria a canção e o amigo comum o Neil Hannon. Eu dava a unha do dedo mindinho esquerdo para ser capaz de escrever uma canção assim...
Boa Páscoa.
ao Zé, a única pessoa (a modéstia impede-me de ajuntar "para além de mim") que até hoje eu gostei de ouvir a fazer sing-along com The Divine Comedy
Os Marillion, já sem o Fish, têm uma música chamada "Easter". Eu quero que os Marillion esfreguem as mãos à parede. A Páscoa não interessa quando à Paixão de Cristo se sobrepõe, no meu robusto coração, a Paixão pela mais bela canção do ano.
O novo álbum dos The Divine Comedy (e já vão ver que ainda faz sentido falar no plural), "Absent Friends", é excelente. Está muito acima do que foi o anterior "Regeneration". São dez canções e um instrumental, daquelas que só Neil Hannon tem a lata e o talento de fazer hoje em dia. Canções bonitas, despretensiosas, intensas e inteligentes.
Mas há uma que me levou a estar a pé até às 3 da manhã, ontem, e que hoje me fez programar o leitor de cd's para a manter no repeat durante uma hora. Chama-se "Our Mutual Friend". É um épico orquestral, uma canção "larger than life", com uma interpretação contida de Neil Hannon - o que não o impede de mostrar que tem uma das melhores vozes da música pop actual - e com uma letra que mistura um lado cândido e inocente com o humor corrosivo e com o único sentimento que podia justificar uma música assim.
Três quartos do meu amor por esta canção justificam-se pelo arranjo de orquestra de Jobi Talbot. O conceito de perfeição é qualquer coisa que tento gerir com parcimónia, mas este arranjo cabe lá dentro como nenhum outro. As cordas são atacadas com veemência enquanto os sopros arrastam lentamente a sua entrada, e a percurssão é discreta mas viva e marcante, seguindo a linha dos baixos mas com suficiente diferença de timbre para não soar "quadrado".
São 5 minutos e 57 segundos de beleza no seu estado mais puro. Quando a música acaba e começa a seguinte, "The Happy Goth", sinto uma revolta extraordinária, um desamor totalmente injusto pela música seguinte, e sou compelido a reouvir e reouvir e reouvir "Our Mutual Friend". Serei esquizóide?...
De qualquer forma, farei o melhor que puder para vos dar a conhecer, na língua de Ruben A. e de Maria Ondina Braga, mais uma pérola, e que pérola, esta, da lírica pop contemporânea.
Our Mutual Friend
No matter how I try,
É daquelas coisas inescapáveis
I just can't get her out of my mind,
Uma parte qualquer do cérebro que é auto-determinada
And when I sleep,
Uma parte que não dorme
I visualize her,
E que projecta imagens dela o tempo todo
I saw her in the pub,
Já a tinha visto num café
I met her later at the nightclub,
E encontrei-a depois numa discoteca ali ao pé
A mutual friend introduced us,
Fomos apresentados por um amigo comum
We talked about the noise,
Conversámos - ou melhor, tentámos
And how it's hard to hear your own voice,
Sobre a impossibilidade de conversar num lugar assim
Above the beat and the sub-bass,
Com a aparelhagem Furacão refundida a distorcer os graves
We talked and talked for hours,
Ainda assim conversámos, indiferentes a tudo
We talked in the back of our friend's car,
E continuámos a conversar na Kangoo do amigo comum
As we all went back to his place,
Que nos levou para casa dele prometendo cervejas e sandes de atum
On our friend's settee,
No pardieiro em que vive o nosso amigo
She told me that she really liked me,
Ela disse que lhe agradava estar comigo
And I said "Cool, the feeling's mutual",
E eu respondi "Ainda bem. Eu gosto de estar contigo, também."
We played old 45s,
Tocámos os singles que o nosso amigo lá tinha
I said 'It's like the soundtrack to our lives",
Eu disse "Não achas a voz do Pat Boone igual à minha?"
And she said "True, it's not unusual",
E ela respondeu: "Talvez, mas quem gostava dele era a minha mãe."
And privately we danced,
Dançámos os dois juntos
But couldn't seem to keep our balance,
Mas os tropeções eram mais que muitos
A drunken haze had come upon us,
Os vapores etílicos íam-nos dominando
We sank down to the floor,
Estendemo-nos no chão
And we sang, the song that I can't sing anymore,
E cantámos canções que não me lembro quais são
And then we kissed, and fell unconscious,
Mas lembro-me do beijo e de me sentir afundando
I woke up the next day,
Acordei no outro dia
All alone but for a headache,
Sozinho, e o que a minha cabeça zunia...
I stumbled out, to find the bathroom,
Cambaleei à procura da casa de banho
But all I found was her,
Mas encontrei-a a ela
Wrapped around another lover,
Enrolada na cama com o magricela
No longer then,
E a partir deste dia esse bandalho
Is he our mutual friend.
Que vá chamar amigo ao caralho
The Divine Comedy, Absent Friends
E pronto. Numa leitura pessoal, eu seria o corno, ela seria a canção e o amigo comum o Neil Hannon. Eu dava a unha do dedo mindinho esquerdo para ser capaz de escrever uma canção assim...
Boa Páscoa.
Arrotos do Porco: