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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, abril 20, 2004

25 DE ABRIL - 30 ANOS (II)



Albertina Diogo, a primeira mulher a sofrer a tortura do sono pela PIDE/DGS, presa em 1960 com 28 anos.

"Mal abri encostaram o pé de cabra. Já não fechei a porta. 'Minha senhora não se aflija, está bem acompanhada.' Eram só oito, oito homens pela casa dentro! Pareciam uns algozes! A correr pela casa toda, a ver se estava mais alguém que não eu. Não tive tempo de queimar nada. A gente, quando tem tempo, queima e safa. Apanharam a casa toda, toda. Levaram os materiais todos, todos."

“Estive 40 dias numa cela, sem recreio, sem ninguém, sem visitas, sem lanche e só levava a roupa que tinha no corpo. Fazia assim, eu tirava uma peça, lavava e punha na janela, depois tirava outra peça, lavava e punha na janela. A roupa que eu trouxe retiveram-na toda na secretaria."

"Custa muito. Eu digo, eu preferia que eles me batessem, a sofrer a tortura do sono, é uma coisa horrível. Ninguém queira saber o que é. Sentada e de pé. Não havia mais nada. Uma cadeira no meio da sala. A fazerem-me perguntas: 'Onde é que a senhora estava a trabalhar? Quem é o pai dos seus filhos? O que é que a senhora fazia?' Estou a responder à senhora? Nadinha."

"Eles funcionavam por turnos, de quatro em quatro horas, os pides saíam e entravam outros e a pessoa é sempre a mesma. Havia um, o Sardinha, que pegava na cadeira e andava à roda da pessoa. Eu virava a cara e ele ia atrás, para me obrigar a falar. Aquilo era uma coisa muito cansativa."

"Às tantas, ela pegou-me assim na cabeça e bumba, bate-me contra a parede. Fiquei atordoada. E depois a outra deu-me assim umas bofetadas que ainda hoje não ouço bem deste ouvido, por causa das torturas que me fizeram. Fiquei logo com os ouvidos muito esquisitos e atordoada."
Mantida sem dormir, Albertina começa a sofrer alucinações.
"Depois comecei a ouvir vozes. No fim do quinto dia. Eu olhava assim para o cantinho e via muitos bichinhos. Olhava para a parede e via desenhos muito bonitos. Eu dizia para mim, 'ai estou maluca'. Mas a fazer-me forte para a PIDE não perceber que eu não estava bem. Não queria dar parte fraca. Queria fazer das minhas fraquezas forças. Mas eles percebiam que eu não estava bem. Na noite de sexta-feira, o Barata mandou pôr um colchão para eu me deitar, porque comecei a vomitar. Conforme comia, deitava tudo fora. Então descansei um bocadinho e trouxeram-me para Caxias."
Excertos da entrevista a SÃO JOSÉ ALMEIDA
Público online

Arrotos do Porco:


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