sexta-feira, março 26, 2004 |
O ENTERTAINER, parte IV
O artista passa as emoções ao público...
- Então? Gostaram? Parece-me que vejo uma senhora a chorar, ali ao fundo... Diga lá, minha senhora. Isso são lágrimas? Ou cataratas? Ou rinite?
Entram de novo as bailarinas, cada uma queimando o seu pauzinho de incenso.
- Bom. Estimado público, isto é ALTA DESBUNDA COM VARETA FUNDA, sim... Mas eu sei que a vertigem do fim vos faz abraçar alguma forma de misticismo. Vocês não se conformam com o facto de a morte ser o fim, não é? E quando já sentem o seu bafo quente e pútrido no pescoço (a produção liga o aquecimento da sala no máximo), tentam divisar qualquer esperança de outra vida no fim desta... Pobres papalvos... NÂO HÁ NADA, PERCEBEM?! NADA!! Só a decomposição dos vossos corpos flácidos e abjectos... Mas não quero ser eu a dar-vos as más notícias. Pelo contrário! Vamos alimentar a ilusão com um faduncho animadinho que eu escrevi para vocês e a que chamei “Fado do Outro Lado”. É um típico fado meia noite. Espero que gostem. Anda, Pacheco!
“Queria encontrar o bruxedo
Que me desse garantia
Queria encontrar o bruxedo
Que me desse garantia
De enfrentar o fim sem medo
Que depois da morte vivia
De enfrentaaaar o fim sem medo
Que depois da morte vivia
A São Pedro e a Lucifer
Eu já pedi por ajuda
A São Pedro e a Lucifer
Eu já pedi por ajuda aaaaaaaai
Acuda-me quem puder
Seja Jesus Cristo ou Buda
Acuuuda-me quem pudeeer
Seja Jesus Cristo ou Buda
Não me conformo em morrer
Ter a existência acabada
Não me conformo em morrer, não
Ter a existência acabada
Nunca mais comer nem beber
Cair nos braços do nada
Ai nunca mais comer nem beber
Cair nos braços do nada
Seja eu alma penada
Ou reencarne num boi
Seja eu alma penaaaaaaada
Ou reencarne num boi
Não quero sofrer mais nada
Nem lembrar-me do que foi
Não quero sofrer mais naaada
Nem lembrar-me do que foi
Dizem que o que lá vai, lá vai
Eu quero saber é se volto
Dizem que o que lá vai, lá vai
Eu quero saber é se volto
Se no Céu eu encontro o Pai
Em nuvens de anjos envolto
Se no Céu eu encontro o Paaaaaai
Em nuvens de anjos envolto
Que morrer sem um sinal
De que vou ter continuação
Que morrer sem um sinaaaaaaaaal
De que vou ter continuação
Ai p’ra quê sofrer então
Com hérnias e hemorroidal
Ai p’ra quê sofrer ENTÃÃÃOOO
COM HÉRNIAS E HEMORROIDAL
Prlong Prlong”
- Então? É bonito. Eu adivinho nos vossos rostos que este fado vos tocou. Cá o Vareta bem sabe de que é que gostam os velhadas! Gostam duns fadunchos, gostam de folclore, gostam da Tonicha... “Arre burra qu’amanhã é sexta!”... Palhaços! Gostam do Manuel Luís Goucha. Gostam d’As Lições do Tonecas... “Então ó Menino Tonecas, sabe-me dizer em quantas partes se divide o estômago da vaca? É em duas, Senhor Professor! Duas?! Sim, é o estômago e a cona. Ó Menino Tonecas!! Mas o que é que está a dizer?!! Então, a minha mãe é que diz que a vaca da vizinha tem tal fome de homem que deve ter a cona no estômago...” Acham graça, não é? Palhaços!... Enfim... Mas isto é ALTA DESBUNDA COM VARETA FUNDA, e o espectáculo não pode parar! Dizem que burro velho não aprende línguas, não é? Aquela senhora está-se a rir... Cá para mim o seu marido nunca aprendeu foi a usar a língua dele, não? Hum? Conte lá. A senhora também o ensinou a brincar ao Calippo? Hum? Lambe à volta para não desperdiçar o que vai derretendo? Devias ser fresca, devias... Galdéria! Bom. Como este espectáculo também é educativo, vamos avançar para uma aula de língua estrangeira. É verdade. Vou interpretar uma canção em estrangeiro, mas tendo o cuidado de traduzir cada verso. Assim, vocês, burros velhos, poderão associar a fonética do estrangeiro ao seu significado em português. Quem é amigo, quem é? A música chama-se “Forever Young”, que quer dizer “Viver p’ra quê?” e era de um agrupamento musical da Alemanha chamado Alphaville, que quer dizer “Albergaria-a-Velha”. Vamos lá a isto.
“let's dance in style, lets dance for a while
Não tenho dentes, não posso comer
heaven can wait we're only watching the skies
Não tenho gengivas para a placa dentária
hoping for the best but expecting the worst
Uso meias de descanso p’ra apertar as varizes
are you going to drop the bomb or not?
Ó Cruel Ceifeira, quando vens?
let us die young or let us live forever
Os filhos acham que devo anos à cova
we don't have the power but we never say never
Olham p’ra mim e já so vêem partilhas
sitting in a sandpit, life is a short trip
No Centro do Dia ou na Geriatria
the music's for the sad men
É onde eu vou acabar
can you imagine when this race is won
A andropausa há muito chegou
turn our golden faces into the sun
Foi-se a reacção e ninguém m’avisou
praising our leaders we're getting in tune
Mulher e putedo, tudo se acabou
the music's played by the madmen
Vocês agora querem é rock
forever young, i want to be forever young
Viver p’ra quê? Aos oitenta e três, viver p’ra quê?
do you really want to live forever, forever and ever
Acham que vão ficar p’ra semente? Ó gente demente
some are like water, some are like the heat
O médico não me deixa beber vinho
some are a melody and some are the beat
O coração não bate sem o aparelhinho
sooner or later they all will be gone
Volta e meia tenho que levar soro
why don't they stay young
E mudar a algália
it's so hard to get old without a cause
Se há dez anos soubesse o que sei hoje
i don't want to perish like a fading horse
Não ia permitir chegar a este nojo
youth is like diamonds in the sun
Não reagi bem à viuvez
and diamonds are forever
E a viuvez é fodida
so many adventures couldn't happen today
Perdoa-me esposa o quanto eu te encornei
so many songs we forgot to play
Todas as gajas com quem me deitei
so many dreams are swinging out of the blue
Hoje a enfermeira trata-me como tu
we let them come true
E lava-me o cu
forever young, i want to be forever young
Viver p’ra quê? Aos oitenta e três, viver p’ra quê?
do you really want to live forever, forever and ever
Acham que vão ficar p’ra semente? Ó gente demente
forever young, i want to be forever young
Viver p’ra quê? Aos oitenta e três, viver p’ra quê?
do you really want to live forever, forever and ever
Acham que vão ficar p’ra semente? Ó gente demente”
- Então? Não é mais bonito isto que virem a contar anedotas porcas ao microfone na camioneta da excursão?
(continua, mas só mais uma vez)
O artista passa as emoções ao público...
- Então? Gostaram? Parece-me que vejo uma senhora a chorar, ali ao fundo... Diga lá, minha senhora. Isso são lágrimas? Ou cataratas? Ou rinite?
Entram de novo as bailarinas, cada uma queimando o seu pauzinho de incenso.
- Bom. Estimado público, isto é ALTA DESBUNDA COM VARETA FUNDA, sim... Mas eu sei que a vertigem do fim vos faz abraçar alguma forma de misticismo. Vocês não se conformam com o facto de a morte ser o fim, não é? E quando já sentem o seu bafo quente e pútrido no pescoço (a produção liga o aquecimento da sala no máximo), tentam divisar qualquer esperança de outra vida no fim desta... Pobres papalvos... NÂO HÁ NADA, PERCEBEM?! NADA!! Só a decomposição dos vossos corpos flácidos e abjectos... Mas não quero ser eu a dar-vos as más notícias. Pelo contrário! Vamos alimentar a ilusão com um faduncho animadinho que eu escrevi para vocês e a que chamei “Fado do Outro Lado”. É um típico fado meia noite. Espero que gostem. Anda, Pacheco!
“Queria encontrar o bruxedo
Que me desse garantia
Queria encontrar o bruxedo
Que me desse garantia
De enfrentar o fim sem medo
Que depois da morte vivia
De enfrentaaaar o fim sem medo
Que depois da morte vivia
A São Pedro e a Lucifer
Eu já pedi por ajuda
A São Pedro e a Lucifer
Eu já pedi por ajuda aaaaaaaai
Acuda-me quem puder
Seja Jesus Cristo ou Buda
Acuuuda-me quem pudeeer
Seja Jesus Cristo ou Buda
Não me conformo em morrer
Ter a existência acabada
Não me conformo em morrer, não
Ter a existência acabada
Nunca mais comer nem beber
Cair nos braços do nada
Ai nunca mais comer nem beber
Cair nos braços do nada
Seja eu alma penada
Ou reencarne num boi
Seja eu alma penaaaaaaada
Ou reencarne num boi
Não quero sofrer mais nada
Nem lembrar-me do que foi
Não quero sofrer mais naaada
Nem lembrar-me do que foi
Dizem que o que lá vai, lá vai
Eu quero saber é se volto
Dizem que o que lá vai, lá vai
Eu quero saber é se volto
Se no Céu eu encontro o Pai
Em nuvens de anjos envolto
Se no Céu eu encontro o Paaaaaai
Em nuvens de anjos envolto
Que morrer sem um sinal
De que vou ter continuação
Que morrer sem um sinaaaaaaaaal
De que vou ter continuação
Ai p’ra quê sofrer então
Com hérnias e hemorroidal
Ai p’ra quê sofrer ENTÃÃÃOOO
COM HÉRNIAS E HEMORROIDAL
Prlong Prlong”
- Então? É bonito. Eu adivinho nos vossos rostos que este fado vos tocou. Cá o Vareta bem sabe de que é que gostam os velhadas! Gostam duns fadunchos, gostam de folclore, gostam da Tonicha... “Arre burra qu’amanhã é sexta!”... Palhaços! Gostam do Manuel Luís Goucha. Gostam d’As Lições do Tonecas... “Então ó Menino Tonecas, sabe-me dizer em quantas partes se divide o estômago da vaca? É em duas, Senhor Professor! Duas?! Sim, é o estômago e a cona. Ó Menino Tonecas!! Mas o que é que está a dizer?!! Então, a minha mãe é que diz que a vaca da vizinha tem tal fome de homem que deve ter a cona no estômago...” Acham graça, não é? Palhaços!... Enfim... Mas isto é ALTA DESBUNDA COM VARETA FUNDA, e o espectáculo não pode parar! Dizem que burro velho não aprende línguas, não é? Aquela senhora está-se a rir... Cá para mim o seu marido nunca aprendeu foi a usar a língua dele, não? Hum? Conte lá. A senhora também o ensinou a brincar ao Calippo? Hum? Lambe à volta para não desperdiçar o que vai derretendo? Devias ser fresca, devias... Galdéria! Bom. Como este espectáculo também é educativo, vamos avançar para uma aula de língua estrangeira. É verdade. Vou interpretar uma canção em estrangeiro, mas tendo o cuidado de traduzir cada verso. Assim, vocês, burros velhos, poderão associar a fonética do estrangeiro ao seu significado em português. Quem é amigo, quem é? A música chama-se “Forever Young”, que quer dizer “Viver p’ra quê?” e era de um agrupamento musical da Alemanha chamado Alphaville, que quer dizer “Albergaria-a-Velha”. Vamos lá a isto.
“let's dance in style, lets dance for a while
Não tenho dentes, não posso comer
heaven can wait we're only watching the skies
Não tenho gengivas para a placa dentária
hoping for the best but expecting the worst
Uso meias de descanso p’ra apertar as varizes
are you going to drop the bomb or not?
Ó Cruel Ceifeira, quando vens?
let us die young or let us live forever
Os filhos acham que devo anos à cova
we don't have the power but we never say never
Olham p’ra mim e já so vêem partilhas
sitting in a sandpit, life is a short trip
No Centro do Dia ou na Geriatria
the music's for the sad men
É onde eu vou acabar
can you imagine when this race is won
A andropausa há muito chegou
turn our golden faces into the sun
Foi-se a reacção e ninguém m’avisou
praising our leaders we're getting in tune
Mulher e putedo, tudo se acabou
the music's played by the madmen
Vocês agora querem é rock
forever young, i want to be forever young
Viver p’ra quê? Aos oitenta e três, viver p’ra quê?
do you really want to live forever, forever and ever
Acham que vão ficar p’ra semente? Ó gente demente
some are like water, some are like the heat
O médico não me deixa beber vinho
some are a melody and some are the beat
O coração não bate sem o aparelhinho
sooner or later they all will be gone
Volta e meia tenho que levar soro
why don't they stay young
E mudar a algália
it's so hard to get old without a cause
Se há dez anos soubesse o que sei hoje
i don't want to perish like a fading horse
Não ia permitir chegar a este nojo
youth is like diamonds in the sun
Não reagi bem à viuvez
and diamonds are forever
E a viuvez é fodida
so many adventures couldn't happen today
Perdoa-me esposa o quanto eu te encornei
so many songs we forgot to play
Todas as gajas com quem me deitei
so many dreams are swinging out of the blue
Hoje a enfermeira trata-me como tu
we let them come true
E lava-me o cu
forever young, i want to be forever young
Viver p’ra quê? Aos oitenta e três, viver p’ra quê?
do you really want to live forever, forever and ever
Acham que vão ficar p’ra semente? Ó gente demente
forever young, i want to be forever young
Viver p’ra quê? Aos oitenta e três, viver p’ra quê?
do you really want to live forever, forever and ever
Acham que vão ficar p’ra semente? Ó gente demente”
- Então? Não é mais bonito isto que virem a contar anedotas porcas ao microfone na camioneta da excursão?
(continua, mas só mais uma vez)
Arrotos do Porco: