quarta-feira, janeiro 28, 2004 |
VOCÊS AGORA QUEREM É ESTILO!
Aos 17 anos rapei o cabelo. Foi a altura certa para o fazer. Nunca mais o fiz. Ficava com a cara redonda, muuuuito redonda e, como sou coradinho, parecia mais um provinciano destinado ao Alfeite. A reacção dos meus pais foi cautelosa e evoluiu gradualmente no sentido positivo, à medida que o cabelo ía crescendo. Claro que hoje, que uso o cabelo num tamanho perfeitamente comum, ainda os ouço dizer, algumas vezes: "Ficavas bem era com o cabelo rapado". É normal. Dá-se sempre mais valor ao que não se tem.
Se calhar também vou dar por mim com saudades do aspecto antigo do nosso Porquinho e a pensar: "Ficava bem era com o fundo branco". Mas não vai ser para já. Vou-me lembrar, sim, de como ele era. Isso é fundamental para apreciar a mudança.
Não vem ao caso se se muda para melhor ou pior (claro que é para melhor e ai de quem diga o contrário!). O que aconteceu foi que o face-lifting do nosso pequeno suíno me fez lembrar do que eu já fui e do que já foram as pessoas que eu fui/me foram acompanhando.
Mudei alguma coisa desde que rapei o cabelo há dez anos. Não devo ter mudado muito de aspecto - pelo menos a minha professora da escola primária ainda me reconhece: "Olha para essa figura! Eu sabia que te devia ter reprovado!". Fui acreditando em menos coisas, fui tendo menos certezas, fui variando de peso, fui dando por mim já um adulto. Para mim, valeu a pena ir mudando, como valeu a pena cada dia que passei em diferente condição - para os outros, não sei e preferia que se abstivessem de comentários...
Mas muito mais do que me examinar - coisa para que nunca tive paciência - hoje lembrei-me dos outros. Putos que conheci no 7º ano, de mochila às costas e sapatilhas Desportex, estão hoje casados e com filhos. Gajas que conheci no Ciclo Preparatório, de mala "Madonna" de plástico e collants de cores fortes, andam hoje atentas às tendências ou às lojas pré-mamã. Lembrei-me, claro, com muito carinho, dos pares de mamas que fui vendo crescer e avolumar em peitos que conheci tão lisos como o meu. Hoje em dia, concluí, faço parte de uma geração de jovens adultos.
Aqui há duas semanas, ía eu a entrar no comboio para Tomar, tropecei num degrau e caí. Cachapum!, lá aterrei eu em cima do saco de viagem. Tirando a nódoa negra na perna esquerda e a memória dolorosa das gargalhadas alheias, o que me marcou nessa queda foi ter ouvido duas rapariguitas dos seus 16 anos a comentar: "Viste a queda que aquele senhor deu?". Não foi pelas risadinhas que íam soltando, foi pela distância que a palavra "senhor" impôs. De mim, já não se espera que "rape o cabelo". Tenho um "lugar na sociedade" e ainda que não me lembre de o ter pedido, admito não ter a coragem para o largar. Quer queira, quer não, sou mesmo um "senhor".
Fiquei contente, digo-vos. Já tenho um passado e já tenho essa tal coisa das responsabilidades. Gostei destes 27 anos e não vou voltar a ser nada do que já fui, nem vou ser exactamente o que sou hoje. As mudanças de facto não dependem de nós. As mudanças de forma são um sintoma saudável. E de facto, de facto, o nosso Porco está muito mais bonito.
Aos 17 anos rapei o cabelo. Foi a altura certa para o fazer. Nunca mais o fiz. Ficava com a cara redonda, muuuuito redonda e, como sou coradinho, parecia mais um provinciano destinado ao Alfeite. A reacção dos meus pais foi cautelosa e evoluiu gradualmente no sentido positivo, à medida que o cabelo ía crescendo. Claro que hoje, que uso o cabelo num tamanho perfeitamente comum, ainda os ouço dizer, algumas vezes: "Ficavas bem era com o cabelo rapado". É normal. Dá-se sempre mais valor ao que não se tem.
Se calhar também vou dar por mim com saudades do aspecto antigo do nosso Porquinho e a pensar: "Ficava bem era com o fundo branco". Mas não vai ser para já. Vou-me lembrar, sim, de como ele era. Isso é fundamental para apreciar a mudança.
Não vem ao caso se se muda para melhor ou pior (claro que é para melhor e ai de quem diga o contrário!). O que aconteceu foi que o face-lifting do nosso pequeno suíno me fez lembrar do que eu já fui e do que já foram as pessoas que eu fui/me foram acompanhando.
Mudei alguma coisa desde que rapei o cabelo há dez anos. Não devo ter mudado muito de aspecto - pelo menos a minha professora da escola primária ainda me reconhece: "Olha para essa figura! Eu sabia que te devia ter reprovado!". Fui acreditando em menos coisas, fui tendo menos certezas, fui variando de peso, fui dando por mim já um adulto. Para mim, valeu a pena ir mudando, como valeu a pena cada dia que passei em diferente condição - para os outros, não sei e preferia que se abstivessem de comentários...
Mas muito mais do que me examinar - coisa para que nunca tive paciência - hoje lembrei-me dos outros. Putos que conheci no 7º ano, de mochila às costas e sapatilhas Desportex, estão hoje casados e com filhos. Gajas que conheci no Ciclo Preparatório, de mala "Madonna" de plástico e collants de cores fortes, andam hoje atentas às tendências ou às lojas pré-mamã. Lembrei-me, claro, com muito carinho, dos pares de mamas que fui vendo crescer e avolumar em peitos que conheci tão lisos como o meu. Hoje em dia, concluí, faço parte de uma geração de jovens adultos.
Aqui há duas semanas, ía eu a entrar no comboio para Tomar, tropecei num degrau e caí. Cachapum!, lá aterrei eu em cima do saco de viagem. Tirando a nódoa negra na perna esquerda e a memória dolorosa das gargalhadas alheias, o que me marcou nessa queda foi ter ouvido duas rapariguitas dos seus 16 anos a comentar: "Viste a queda que aquele senhor deu?". Não foi pelas risadinhas que íam soltando, foi pela distância que a palavra "senhor" impôs. De mim, já não se espera que "rape o cabelo". Tenho um "lugar na sociedade" e ainda que não me lembre de o ter pedido, admito não ter a coragem para o largar. Quer queira, quer não, sou mesmo um "senhor".
Fiquei contente, digo-vos. Já tenho um passado e já tenho essa tal coisa das responsabilidades. Gostei destes 27 anos e não vou voltar a ser nada do que já fui, nem vou ser exactamente o que sou hoje. As mudanças de facto não dependem de nós. As mudanças de forma são um sintoma saudável. E de facto, de facto, o nosso Porco está muito mais bonito.
Arrotos do Porco: