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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, janeiro 06, 2004

NÃO SEI DIZER



O que é que se pode dizer a uma pessoa que perde alguém? Parece-me um bocado ridículo dizer que "sentimos muito" a morte de alguém a uma pessoa que, de certeza, a sente muito mais do que nós. Apresentar "condolências"? É mesmo possível dividir essa dor e partilhá-la?

A ausência definitiva de alguém deixa-me sempre perante a ausência das palavras certas. E é um momento em que eu queria ter essas palavras certas, palavras que fizessem bem e que preenchessem um bocadinho de uma falta que, simplesmente por ser falta, é sempre irreparável.

Se eu fosse crente, isso seria porventura mais fácil. Ou antes: seria mais fácil, sim, se a pessoa que perdeu alguém fosse crente e aceitasse esse paliativo de que quem morre parte para um sítio melhor. Mas desde que ouvi uma criança de 6 anos contrapôr à frase "O teu avôzinho foi para o Céu." a crueza realista da expressão: "Não, não! O meu avôzinho está numa caixa debaixo da terra!" parece-me generalizada a convicção de que os mortos apenas se perdem e se arrumam.

Como ninguém sofre da mesma maneira, fico sempre receoso de não saber corresponder no momento em que uma pessoa de quem gosto perde alguém. Precisam de mim? Precisam de espaço? O que é que representam as palavras ou os gestos ou as presenças ou as flores? Claro que sofro com a ideia de que estão a sofrer mas, se o demonstrar, não os vou carregar com a culpa desse "sofrimento solidário"?

Qual é o comportamento, quais são essas tais palavras certas que só parecem estar ao alcance das pessoas com mais de 60 anos e muitos funerais no activo? É que me angustia, às vezes, não as saber - e angustia-me a possibilidade de não as ter dito há 14 anos, quando a minha mãe perdeu a sua mãe; há menos tempo, quando a A.M. perdeu as suas avós; ou ontem, quando o P. perdeu a única avó que conheceu. Queria ter sido o filho e o amigo de que precisavam e não sei se fui.


Arrotos do Porco:


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