terça-feira, janeiro 06, 2004 |
Diálogos de Amizade, 4
- Amo-te…
- Quem dera fosse verdade!…
- Mas é.
- Não é. Não pode ser.
- Ora essa!
- Sabes definir o amor? Sabes os seus limites, os seus disfarces, os seus enganos?
- O amor não se presta a perífrases, é endémico do sentir.
- Precisamente. Só o facto de sentires necessário verbalizá-lo dessa forma trivial denuncia a sua falsidade.
- Queres dizer que quem ama não pode declará-lo?
- Não precisa. O amor é um estado, não é uma força.
- Então porque raio existe a palavra?
- Para satisfazer os pobres que são incapazes de o sentir. É como uma imagem de Deus.
- Achas-me assim tão vã e perdida?
- Não. Acho que me prestas uma homenagem exagerada. O que sentes por mim é uma amizade, tão intensa que achas necessário promovê-la.
- Hum… acho que não. Acho que não quero ser tua amiga.
- Isso é uma reacção natural. Sentes-te exposta e embaraçada com a minha racionalização, mas quando pensares bem nisso vais ver como eu tenho razão.
- Nada disso. Não quero ser tua amiga porque os amigos não se fodem uns aos outros.
Arrotos do Porco: