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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


terça-feira, novembro 18, 2003

VOZES



Tive um colega, nos primeiros anos do ensino secundário, que revelava algumas dificuldades de aprendizagem. Lembro-me nitidamente das razões que ele aventava à orientadora vocacional: "É que eu gosto muito de música. E depois estudo com os auscultadores, a ouvir música, e distraio-me e não consigo decorar as coisas." Nos tempos que correm, aí o teríamos na Operação Triunfo ou nos Ídolos; mas aqueles não eram os tempos que correm e o moço lá reprovou no 8º ano.

Esta pequena reminiscência introdutória serve, para além de um conselho aos leitores em idade escolar para não insistirem em estudar com auscultadores se forem somando maus resultados, serve, dizia, para explicar a foto que ilustra o que estou a escrever. A dita foto é da Senhora Claudine Longet e a senhora cantava. Como também eu "gosto muito de música", cruzei-me com ela - a foto - e decidi, mais uma vez, falar-vos de certos valores morais em decadência.

Não vou entrar em pormenores sobre a vida pessoal da sujeita - e se havia pormenores para entrar... ó lá se havia... casou novíssima com um homem 14 anos mais velho, deixou-o, casou com um esquiador famoso o qual morreu num "estranho acidente" em que o seu revólver Lüger se disparou "acidentalmente" nas mãos da Claudine, que foi julgada, condenada a 30 dias de cadeia por negligência, e acabou por casar com o advogado de defesa... ele há vidas... - e não entro nesses pormenores porque, por um lado, sou modesto e evito o quanto posso exibir de forma fácil os meus largos conhecimentos e, por outro, porque não gosto de comentar as vidas alheias.

O que me interessa da dita senhora é a sua voz. Os que a conhecem concordarão comigo que não é grande espingarda. É uma voz pouco encorpada, doce, frágil, dada às melodias ligeiras e airosas em que ela se foi distinguindo. Mas era uma voz quente e envolvente e que deve ter proporcionado a milhares de casais muitos momentos interessantes - momentos esses que, quiçá, poderão estar na própria origem de quem me lê.

Atentem bem no ar angelical (quando, afinal, vai-se a ver e a senhora tinha muito que contar... cala-te boca!) de Claudine Longet, sentada num rochedo, muito composta, pensando na vida. Não é propriamente uma Shakira. Não beija nenhuma colega de ofício. Não usava saias-cinto. E era sexy.

Mas a figura não é o que me importa. O que eu vos quero transmitir é só uma opinião pessoal: as vozes de então, fosse a de Claudine Longet, Karen Carpenter, Isabelle Aubret; e algumas vozes de hoje como a de Nina Persson, Sarah Cracknell ou Elinor Blake, soam tão ou mais sexy que as cantoras-bomba que hoje nos massacram. Entre os suaves e bucólicos passeios das primeiras, cheios de campos em flor, passarinhos, fontes de água, recatados romances, e a clara atitude pré-fabricada de "Bora foder?" das segundas, qual será mais excitante?

Para mim, a escolha é óbvia. Prefiro um promissor passeio campestre a uma fast-foda.


Arrotos do Porco:


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