quinta-feira, novembro 13, 2003 |
UMA VAGA FOTONOVELA
Colecções Harlequin - histórias sem nexo, moral duvidosa, frases feitas e imagens bonitas, de Daniel Blaufuks, que mereciam melhor companhia
ELA
"Eu lembro-me... Eu sei que o escrevi aqui porque tinha medo de não me lembrar. E ele vai chegar e eu não lhe vou saber dizer. Nunca sei dizer nada. E vou ficar a olhar para ele, como uma parva, como sempre. E não lhe vou dizer nada. Eu sabia que me ia esquecer. É sempre o mesmo. Basta saber que ele vem e esqueço-me. E se calhar... Se calhar o melhor é não me lembrar de nada. Se calhar o melhor é ter a memória completamente preta. "O preto é a ausência da cor"... E eu não quero ter cor até ele chegar."
ELE
"Aposto que já nem se lembra de mim. E se se lembrar... Sei lá quem é o "eu" de que ela se lembra. E vai querer falar e vai ser penoso porque não se consegue "contar" dois anos. Dois anos... Porque é que eu ainda acredito nisto? Vai estar mesmo à minha espera? Em dois anos ainda será "ela"? E vai estar sozinha? Vai estar só à espera ou vai estar mesmo à espera de mim? Não lhe comprei nada... Devia ter comprado alguma coisa. Mas se comprar agora não faz sentido. E porque é que eu estou a correr, pá? Tenho tempo... De que é eu quero que ela se lembre? E de que é que costumávamos falar? E lá estou eu a correr outra vez, merda."
ELES
(beijo-a?) (avanço para ele?) (está na mesma...) (é mesmo ele, não é... é ele) (e não me beija?) (estava às escuras?) (ela levantou-se... vou entrar... e...)
E AFINAL
Não há como a distância para testar o prazo de validade de um sentimento.
(suspiro)
Fim
Colecções Harlequin - histórias sem nexo, moral duvidosa, frases feitas e imagens bonitas, de Daniel Blaufuks, que mereciam melhor companhia
ELA
"Eu lembro-me... Eu sei que o escrevi aqui porque tinha medo de não me lembrar. E ele vai chegar e eu não lhe vou saber dizer. Nunca sei dizer nada. E vou ficar a olhar para ele, como uma parva, como sempre. E não lhe vou dizer nada. Eu sabia que me ia esquecer. É sempre o mesmo. Basta saber que ele vem e esqueço-me. E se calhar... Se calhar o melhor é não me lembrar de nada. Se calhar o melhor é ter a memória completamente preta. "O preto é a ausência da cor"... E eu não quero ter cor até ele chegar."
ELE
"Aposto que já nem se lembra de mim. E se se lembrar... Sei lá quem é o "eu" de que ela se lembra. E vai querer falar e vai ser penoso porque não se consegue "contar" dois anos. Dois anos... Porque é que eu ainda acredito nisto? Vai estar mesmo à minha espera? Em dois anos ainda será "ela"? E vai estar sozinha? Vai estar só à espera ou vai estar mesmo à espera de mim? Não lhe comprei nada... Devia ter comprado alguma coisa. Mas se comprar agora não faz sentido. E porque é que eu estou a correr, pá? Tenho tempo... De que é eu quero que ela se lembre? E de que é que costumávamos falar? E lá estou eu a correr outra vez, merda."
ELES
(beijo-a?) (avanço para ele?) (está na mesma...) (é mesmo ele, não é... é ele) (e não me beija?) (estava às escuras?) (ela levantou-se... vou entrar... e...)
E AFINAL
Não há como a distância para testar o prazo de validade de um sentimento.
(suspiro)
Fim
Arrotos do Porco: