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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


segunda-feira, novembro 10, 2003

A LENDA DE SÃO MARTINHO explicada às crianças por Vareta Funda




Martinho, antes de ser Santo, era um soldado romano. Romano é uma maneira de dizer - era um soldado do Império Romano, já que niguém sabe ao certo onde ele nasceu. Este facto, do local de nascimento desconhecido, não só é uma prova de que o dito Império não investia o necessário na administração pública, como lança alguma luz sobre a natureza da actividade profissional da mãe de Martinho... Eu não quero chamar nada à senhora, mas não deixa de ser estranho que nunca tenha aparecido ninguém a dizer com orgulho: "Sou eu o pai daquele santinho!".

Como soldado que era, usava saias. Como Santo que foi, deve ter levado uma vida casta e pelo menos não há registo de matrimónio. Tudo somado, podemos concluir com segurança que o moço pegava de empurrão.

Martinho era legionário mas nunca apareceu nos livros do Asterix. Daí, e da fama que lhe ficou apensa, sou levado a concluir, após intensa pesquisa, que o mariola preferia a costura às actividades bélicas. Aliás, no Livro de Curso da Legião a que pertencia, os colegas de Martinho não lhe regatearam elogios: "Faz milagres com lantejoulas!", "Ninguém tem tão bom gosto nas penas que escolhe para o elmo!", "Fez-me uma saia cintada que punha os Centuriões a salivar.", "Memorável a sua imitação de Messalina!", "Um verdadeiro mago da depilação com cera fria." - enfim, grandes fanchonos, estes Romanos.

A dada altura, o paneleirote Martinho foi até à Roménia, numa viagem destinada a recolher tendências para a estação Primavera-Verão que se avizinhava. Enquanto passeava com o seu livro de esboços, o jovem futuro Santo cruzou-se com um nativo da Roménia, já idoso, o qual, em pleno Outono, apenas usava um pano branco cobrindo as vergonhas. O diálogo que se seguiu, e que esteve na base da canonização, ficou célebre e é um tributo aos valores mais altos da Humanidade transcrevê-lo aqui:

Martinho: - Olá, velhinho!
Velhinho: - Se o cavalo me pisa, estás fodido!
M: - Olá, velhinho
V: - Já te disse, se o cavalo me pisa, estás fodido a valer!
M: - Caralho do velho que não me responde!

Foi nesta altura que Deus ligou a tradução simultânea.

Martinho: - Olá, velhinho!
Velhinho: - Vai chamar velhinho ao caralho que t'a foda!
M: - Não é preciso responderes assim, venerando ancião!
V: - Se me veneras bem te podes ajoelhar e abrir a boquinha...
M: - Estamos chocarreiros apesar da idade, hein?
V: - Caralhos m'a fodam! Eu aqui em introspecção e logo me aparece este rabeta de saias...
M: - Adoro a maneira como usas o pano! É minimalista! É puro! É de um respeito pelos materiais...
V: - Ai a puta da minha vida...
M: - Velhinho, proponho-te o seguin...
V: - FODA-SE! Vai chamar velho ao cabrão do teu pai!
M: - Qual é a tua graça, então?
V: - Segue o teu caminho, cavaleiro... Não te esqueças que estás na Roménia e isto é terra de ciganos e eu posso estar a esconder muita coisa debaixo desta fralda de pano branco...
M: - Na tua idade?! Promessas!...
V: - Mas o que é que tu queres, ó fanchono?
M: - O meu nome é Martinho, sou designer de moda e ando a recolher tendências...
V: - E o meu nome é Magusto e tenho um caralho forte e robusto!
M: - Senhor Magusto, como eu ía...
V: - És mesmo tanso, tu, não és? Acreditas em tudo...
M: - Deixe-me falar, apre! Eu sou um legionário do Império Romano!
V: - Fala, fala para aí, florzinha.
M: - Bom. Como lhe disse, ando a recolher tendências e acho essa "fralda" super-fashion. Posso desenhá-la?
V: - Bem diz o outro que estes romanos são loucos...
M: - Então, Senhor Magusto? Em que é que ficamos?
V: - Mas tu estás a falar a sério?! Foda-se...
M: - Até lhe digo mais... Está a levantar-se uma aragem fresquinha e este vento da Transilvânia ainda lhe faz mal ao reumático...
V: - A Transilvânia é a Oeste e o vento está de Norte. Vê lá se te orientas, mariconço.
M: - Isso a mim não me interessa! Ofereço-te a minha capa de lã se me ofereceres a tua fralda.
V: - Deves pensar que isto é o final de um jogo de futebol em que toda a gente troca camisolas transpiradas... Eu sei lá por onde é que tu andaste com essa capa... Posso já não ser novo mas tenho saúde e tu tens um ar enfermiço.
M: - Velhinho, não me faças perder mais tempo! Ainda tenho muita tendência para recolher...
V: - Troco a fralda pela capa e pelo cavalo, mas corta a capa em duas para eu depois coser as metades e fazer uma veste...
M: - Pelo cavalo? E depois como é que saio daqui?
V: - É pegar ou largar...
M: - Pronto, seja.
V: - E pelo resto da tua roupa...
M: - O Senhor Magusto já está a abusar...
V: - Bom, parece-me que não fazemos negócio.
M: - Espere! Espere! Eu dou-lhe o resto da roupa.
V: - E a espada e o elmo e o escudo...
M: - Bem dizia a minha mãe que eu era uma doidivanas quando via coisas bonitas... Pronto! Fique com tudo! Essa fralda vale a pena.

E enquanto Martinho se ía despojando dos seus bens, o Padre António Rêgo passeava pela zona, meditando e escrevendo o guião de mais um 70x7. Nisto, viu aquele belíssimo quadro do soldado romano rasgando a sua capa e entregando-a a um velhinho trémulo de mãos estendidas. Sabendo que estava a presenciar um momento único de caridade cristã, o Padre António Rêgo fechou os olhos em oração. Rezou um terço, o Credo e uma Salva-Raínha. Quando os abriu, já o cavaleiro partia e no carregado céu outonal despontava agora um sol radioso à luz do qual um velhinho remoçado se comprazia. Pegando nos seus apontamentos, o Padre fez-se ao caminho e a todos reportou este lindo milagre.


Arrotos do Porco:


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