terça-feira, novembro 25, 2003 |
Diálogos de Amizade, 2
-Porque é que está a fazer essa cara?
-Ó sôr guarda... toda a gente estaciona mal aqui. Há anos que é assim, nunca vi ninguém ser multado.
-Está a dizer que eu estou a ser prepotente? Que estou a usar de um exercício injustificado da autoridade de que fui investido?
-Calma, calma... na realidade, você tem razão. Não se pode estacionar em cima do passeio, eu sei. Mas, que diabo, é o uso. Anos e anos...
-Não estou a perceber. Você está-me a dizer para deixar passar esta infracção porque ela é cometida, diariamente, de há anos para cá?
-Bem... é mais ou menos isso, sim.
-Você acha-me hostil?
-(pausa...) Não, claro que não...
-Eu fui incorrecto consigo?
-Claro que não, foi até muito cordial.
-Você duvida que um agente da autoridade é um seu amigo?
-Porra, um amigo meu não me multava...
-Não? Coitado de si. Os seus amigos não o criticam? Não lhe apontam os seus erros, na tentativa de fazer de si uma pessoa melhor? Não estou a ser seu amigo ao corrigir esta infracção que você cometeu?
-Tem alguma razão, um amigo não deve ter pejo de se chatear connosco e apontar-nos coisas que ache que estamos a fazer mal. Mas um amigo não nos castiga pelos nossos erros. Aconselha-nos, fala connosco, às vezes em tom brusco, mas sempre sem intenção de nos prejudicar. Você não está a ser meu amigo ao passar-me essa multa de estacionamento.
-De estacionamento e não só. Os seus pneus estão carecas.
-O quê? Ó sôr guarda, não me lixe!
-Porquê? Você não quis que eu fosse seu amigo...
Arrotos do Porco: