segunda-feira, outubro 20, 2003 |
UMA SEMANA
Roma é uma cidade esmagadora.
Esta frase precisa de espaço. Ou, pelo menos, eu preciso de lhe dar espaço. Em Roma não há espaço, porque tudo está tomado pelo tempo.
Não queria vir para aqui armado em basbaque, falar-vos da História, da importância simbólica da cidade... Não sou o Vasco Graça Moura nem o David Mourão-Ferreira. Mas também me é impossível limitar-me a dizer que a cidade é ao mesmo tempo uma benção e um tormento pelo número avassalador de mulheres bonitas nas ruas, nos cafés, nos restaurantes, nas lojas, nas paragens de autocarro, no metro...
Roma esfrega-nos o tempo na cara. É uma lição de humildade. Senti-me, como nunca, relativizado, amesquinhado, posto no lugar.
Voltei com uma sensação estranha, que precisa de uma nova visita para poder ser confirmada: a vida urgente e febril dos romanos de hoje é uma fuga ao peso do tempo que ali se sente. Os gritos, o carácter expansivo, os gestos, a frequência com que se tocam... tudo aquilo me parece, a esta distância, uma tentativa de se conferirem valor e importância num cenário cuja escala monumental os menospreza e desrespeita.
Não consigo "contar" Roma, nem tão pouco falar muito dela. Apenas estive lá, apenas a visitei o pouco que pude. E não me senti estrangeiro - nem sei se essa será uma condição ao alcance de um ocidental, assim como não sei se alguém consegue pertencer a Roma. Senti-me num lugar em que as pessoas vivem para as pessoas - com o pecadilho desculpável da vaidade - e se refugiam no número para se enquadrarem numa das mais sobre-humanas das construções do Homem.
Escuso-me a descrever o prazer que se encerra em tal "refúgio no número" quando esse mesmo número é tão pródigo em beleza.
Roma é uma cidade esmagadora.
Esta frase precisa de espaço. Ou, pelo menos, eu preciso de lhe dar espaço. Em Roma não há espaço, porque tudo está tomado pelo tempo.
Não queria vir para aqui armado em basbaque, falar-vos da História, da importância simbólica da cidade... Não sou o Vasco Graça Moura nem o David Mourão-Ferreira. Mas também me é impossível limitar-me a dizer que a cidade é ao mesmo tempo uma benção e um tormento pelo número avassalador de mulheres bonitas nas ruas, nos cafés, nos restaurantes, nas lojas, nas paragens de autocarro, no metro...
Roma esfrega-nos o tempo na cara. É uma lição de humildade. Senti-me, como nunca, relativizado, amesquinhado, posto no lugar.
Voltei com uma sensação estranha, que precisa de uma nova visita para poder ser confirmada: a vida urgente e febril dos romanos de hoje é uma fuga ao peso do tempo que ali se sente. Os gritos, o carácter expansivo, os gestos, a frequência com que se tocam... tudo aquilo me parece, a esta distância, uma tentativa de se conferirem valor e importância num cenário cuja escala monumental os menospreza e desrespeita.
Não consigo "contar" Roma, nem tão pouco falar muito dela. Apenas estive lá, apenas a visitei o pouco que pude. E não me senti estrangeiro - nem sei se essa será uma condição ao alcance de um ocidental, assim como não sei se alguém consegue pertencer a Roma. Senti-me num lugar em que as pessoas vivem para as pessoas - com o pecadilho desculpável da vaidade - e se refugiam no número para se enquadrarem numa das mais sobre-humanas das construções do Homem.
Escuso-me a descrever o prazer que se encerra em tal "refúgio no número" quando esse mesmo número é tão pródigo em beleza.
Arrotos do Porco: