quarta-feira, outubro 01, 2003 |
A propósito de rankings
A escrita pública/publicável/publicada é um exercício de vaidade, pra começo de conversa. As formas tradicionais de expressão escrita pública, livros, revistas, jornais, etc., foram rapidamente substituídas pelos vários fóruns que se disseminaram pelo éter aquando do advento das BBS's e, mais tarde, da Internet. Neles dão largas ao seu ego milhões de pessoas que julgam ter algo a dizer. E têm. E dizem. Se o exercício do direito à liberdade de expressão é assim satisfeito pela mais democrática das ferramentas recentemente criadas - a Internet - tal não significa que quem escreva colhe reconhecimento ou aprovação de quem lê.
Os belogues são apenas mais uma das formas de expôr a produção intelectual escrita de todo o gato pingado, e alguém cunhou o neologismo umbigoesfera para caracterizar a essência da maior parte deles. Sendo que concordo em absoluto com essa natureza essencial dos belogues, falha por completo numa particularidade importantíssima.
Grande parte dos belogues mais famosos e visitados escritos em língua portuguesa-de-portugal é propriedade de gente habituada a produzir pensamento - políticos, escritores, críticos, jornalistas, professores, etc. E de uma atitude umbilical-contemplativa inicial, que não presenciei mas adivinho, passaram rapidamente a uma outra de procura e oferta de reconhecimento junto dos seus pares, arregimentamento de camaradas, confronto com os "adversários" e proscrição dos indignos. No fundo, estabeleceram-se cliques que, a seu tempo, estabilizaram em substância e delimitaram fronteiras, onde decorrem regularmente escaramuças, mais folclóricas do que propriamente sanguíneas.
O irónico disto tudo é que, independentemente de se considerarem "ateus" ou "cristãos", "de esquerda" ou "de direita", "sérios" ou "jocosos", "alinhados" ou "independentes", acabaram por formar um anel razoavelmente hermético, uma espécie de "perímetro de idoneidade" em que todos se conhecem, citam e consultam. Se tal coisa foi natural ou premeditada, escapa-me e não me interessa. O que interessa é que existe, e basta dar uma volta pelos belogues e começar a seguir links para perceber isto.
Qualquer ranking baseado em links, nestas condições, está irremediavelmente viciado em favor da situação. Não reconhecer isto e basear aqui análises ou congratulações é um bocadinho desonesto, para não dizer onanista. Mas, uma vez que a condição de base do reconhecimento mútuo está satisfeita, suponho que esteja tudo bem.
Eu, por mim, prefiro continuar o meu exercício de vaidade aqui, sossegadinho, lido e criticado por pessoas que me são próximas por convergência caótica de interesses, sem preocupações de saber se sou apreciado ou reconhecido por fulano ou sicrano que escrevem para o jornal "A" ou "B". Imagino que isso, para eles, seja de importância real e decisiva. Não é para mim. Por alguma razão, a maioria assina e assume quem é e o que faz, e outros há que se estão borrifando para isso. Como eu ou, a galáxias de distância, o Pipi, cujo lamento (que estranhei, reconheço) me suscitou estas linhas.
Acho que falei sobre "metabloguismo". Desculpem-me, eu vou já lavar a boca e as mãos.
A escrita pública/publicável/publicada é um exercício de vaidade, pra começo de conversa. As formas tradicionais de expressão escrita pública, livros, revistas, jornais, etc., foram rapidamente substituídas pelos vários fóruns que se disseminaram pelo éter aquando do advento das BBS's e, mais tarde, da Internet. Neles dão largas ao seu ego milhões de pessoas que julgam ter algo a dizer. E têm. E dizem. Se o exercício do direito à liberdade de expressão é assim satisfeito pela mais democrática das ferramentas recentemente criadas - a Internet - tal não significa que quem escreva colhe reconhecimento ou aprovação de quem lê.
Os belogues são apenas mais uma das formas de expôr a produção intelectual escrita de todo o gato pingado, e alguém cunhou o neologismo umbigoesfera para caracterizar a essência da maior parte deles. Sendo que concordo em absoluto com essa natureza essencial dos belogues, falha por completo numa particularidade importantíssima.
Grande parte dos belogues mais famosos e visitados escritos em língua portuguesa-de-portugal é propriedade de gente habituada a produzir pensamento - políticos, escritores, críticos, jornalistas, professores, etc. E de uma atitude umbilical-contemplativa inicial, que não presenciei mas adivinho, passaram rapidamente a uma outra de procura e oferta de reconhecimento junto dos seus pares, arregimentamento de camaradas, confronto com os "adversários" e proscrição dos indignos. No fundo, estabeleceram-se cliques que, a seu tempo, estabilizaram em substância e delimitaram fronteiras, onde decorrem regularmente escaramuças, mais folclóricas do que propriamente sanguíneas.
O irónico disto tudo é que, independentemente de se considerarem "ateus" ou "cristãos", "de esquerda" ou "de direita", "sérios" ou "jocosos", "alinhados" ou "independentes", acabaram por formar um anel razoavelmente hermético, uma espécie de "perímetro de idoneidade" em que todos se conhecem, citam e consultam. Se tal coisa foi natural ou premeditada, escapa-me e não me interessa. O que interessa é que existe, e basta dar uma volta pelos belogues e começar a seguir links para perceber isto.
Qualquer ranking baseado em links, nestas condições, está irremediavelmente viciado em favor da situação. Não reconhecer isto e basear aqui análises ou congratulações é um bocadinho desonesto, para não dizer onanista. Mas, uma vez que a condição de base do reconhecimento mútuo está satisfeita, suponho que esteja tudo bem.
Eu, por mim, prefiro continuar o meu exercício de vaidade aqui, sossegadinho, lido e criticado por pessoas que me são próximas por convergência caótica de interesses, sem preocupações de saber se sou apreciado ou reconhecido por fulano ou sicrano que escrevem para o jornal "A" ou "B". Imagino que isso, para eles, seja de importância real e decisiva. Não é para mim. Por alguma razão, a maioria assina e assume quem é e o que faz, e outros há que se estão borrifando para isso. Como eu ou, a galáxias de distância, o Pipi, cujo lamento (que estranhei, reconheço) me suscitou estas linhas.
Acho que falei sobre "metabloguismo". Desculpem-me, eu vou já lavar a boca e as mãos.
Arrotos do Porco: