quarta-feira, outubro 22, 2003 |
Outros Blogues |
Gosto de passear pela blogoestrada pela manhã. Dou uma rápida olhadela aos blogues do costume para me pôr ao corrente de novos escritos. É já um hábito, tal como o de visitar as páginas dos jornais diários.
Hoje, ao visitar um dos blogues “obrigatórios” de seu nome Mata-mouros, fui remetido para um outro blogue que desconhecia, chamado O Vilacondense, no qual fui encontrar um post intitulado "Greve do Ensino Superior" que considero digno de ser lido, apesar de não concordar com algumas das coisas que lá são ditas.
Estudei na Universidade de Évora. Nunca fui grevista nem apologista do género de manifestações a que temos assistido, nomeadamente daquelas em que se encerram universidades a cadeado. Neste ponto, estou em total desacordo com a posição adoptada pelos dirigentes associativos da universidade pela qual me formei.
No entanto, não posso deixar passar em claro alguns pontos que me pareceram exagerados na crítica que o "O Vilacondense" faz:
1º - Nem todos os alunos do ensino superior público são "beneficiados da sociedade". Formei-me com a ajuda dos meus pais, aos quais agradeço o enorme sacrifício efectuado. Para além disso, lembro-me de uma rapariga da minha turma que chegava a passar fome para poder comprar livros, sebentas e fotocópias. Há um mês, chegou à Universidade de Évora um rapazinho dos Açores, recém-entrado para o curso de Engenharia Informática, que não tinha dinheiro para fazer a viagem dos Açores para o continente. A sua família é numerosa e de poucas posses, não tendo sequer água canalizada em casa. A sua vinda só foi possível graças a um grupo de pessoas – amigos, vizinhos e até mesmo desconhecidos – que reuniram dinheiro suficiente para a viagem e para o primeiro mês de estadia. Deram-lhe também alguma roupa usada que ele aceitou de bom grado, dado que, para além do que tinha vestido, pouco mais possuía.
Ainda hoje, não sabe se o dinheiro que vai receber da bolsa lhe dará para comer, pagar a residência onde vive e comprar material escolar, muito menos para roupa e propinas.
2º - Quando afirma que "Geralmente, aqueles que chegam à Universidade são os jovens mais protegidos (pela familia e pela sociedade)", penso que se estará a referir aos que podem estudar em universidades privadas por terem capacidade económica para suportar uma mensalidade.
De qualquer forma, não vejo que venha mal ao mundo pelo facto de alguém ser protegido pela família. Não considero que isso seja um indicador económico ou social do aluno.
3º - Uma boa fatia dos que começam a trabalhar aos 15/16 anos não o fazem por impossibilidade de continuar a estudar.
Alude ainda o "O Vilacondense" àqueles que enveredam pela marginalidade, como se fosse o único escape possível. A isso, apenas respondo com o exemplo dado no ponto 1º.
4º - “Os grevistas são fascistas”: garanto-lhe que a maioria dos grevistas e manifestantes desta universidade são comunistas.
Gostaria ainda de relevar que não sou contra o pagamento de propinas. Sou contra algumas generalizações feitas e que denotam total desconhecimento da realidade vivida por muitos dos alunos. Como será possível ao jovem açoriano pagar o mesmo que outro aluno possuidor de condições económicas razoáveis?
Nota: Entrei para a Universidade de Évora em 1996. Nessa altura não se pagavam propinas. Até hoje, não notei qualquer melhoria na qualidade de ensino. Apenas um aumento do número de professores convidados que são pagos a peso de ouro para dar meia dúzia de aulas num semestre. Noto também a beleza dos Audi’s, Mercedes e BMW’s dos mesmos.
Arrotos do Porco: