quarta-feira, outubro 15, 2003 |
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O Sangue
O sangue, que nos enrubesce a excitação e acinzenta o temor. O sangue que se verte, em acção ou intenção, por causa, idéia, honra, pátria, amigo ou loucura. O sangue feminino-outonal, promessa de fértil primavera. O sangue, afinal, tecido nosso e alma tangível.
Quando o sangue adoece, é a nossa essência que se molesta. Não há refúgio nem recurso cirúrgico que extirpe o mal. À ferida que nos mata podemos apontar um dedo e dizer-lhe, amargos, "foste tu e é por ti". Quando é o sangue que nos mata é como se o corpo se enojasse de nós.
Quem nos é querido fina-se sempre a destempo por coisa vã e injusta. Não podendo morrer de amores, não há maneira boa de acabar. Mas acabar de mal do sangue é como morrer às mãos da mãe que nos amamenta. Ter uma doença mortal do sangue deve ser uma das coisas mais aterradoras que pode suceder a um Homem.
(perdoem-me o mau alinhavo. É tarde e estou cansado, mas não quis deixar de dar um bocadinho a tão nobre causa.)
Arrotos do Porco: