quinta-feira, outubro 23, 2003 |
ARRUMOS
Para guardar a minha vida, precisaria de alguns caixotes e uns quantos tupperware. É essa a vantagem e desvantagem de se ter 27 anos: ainda não temos quase nada, só tempo e espaço para ter.
Pondo de lado os caixotes para os livros e os discos (e a furgoneta para o parco mobiliário...), tenho só algumas memórias, facilmente acomodáveis nas caixinhas de plástico quase indestrutíveis que as nossas mães usavam como desculpa para conviver. Guardá-las-ia ali porque as caixas tupperware simbolizam um cordão umbilical com o meu passado: durante estes já 9 anos de Lisboa, era nessas caixinhas que eu, num ou noutro fim-de-semana, trazia umas refeiçõezinhas pré-cozinhadas, que ajudaram a fazer de mim este rapagão forte e robusto. De cada vez que lhes abria a tampa, sentia o cheiro do carinho paternal, venciam-se os 130 kms de distância, era, no fundo, como abrir a porta de casa.
Que niguém me gabe as virtudes dos postais ilustrados quando comparados com um tupperware cheio de feijoada ou jardineira! De que valem os correios ou os telefones ao pé deste tráfico sentimental de caixas que vinham de Tomar cheias de carinho e íam de Lisboa cheias de saudade e de vontade de reencontro?
Bastar-me-ia, portanto, um conjunto como o acima ilustrado: recipientes para memórias líquidas, fluídas e instáveis; recipientes para memórias sólidas e definitivas; e um escorredor para ali deixar que as más memórias fossem perdendo o azedume. Teria, assim, uma organização abstracta, incatalogável, mas de fácil utilização para quem, como eu, é tão avesso ao método. Com a vantagem decisiva de, a qualquer momento, poder aquentar o meu passado no micro-ondas...
Para guardar a minha vida, precisaria de alguns caixotes e uns quantos tupperware. É essa a vantagem e desvantagem de se ter 27 anos: ainda não temos quase nada, só tempo e espaço para ter.
Pondo de lado os caixotes para os livros e os discos (e a furgoneta para o parco mobiliário...), tenho só algumas memórias, facilmente acomodáveis nas caixinhas de plástico quase indestrutíveis que as nossas mães usavam como desculpa para conviver. Guardá-las-ia ali porque as caixas tupperware simbolizam um cordão umbilical com o meu passado: durante estes já 9 anos de Lisboa, era nessas caixinhas que eu, num ou noutro fim-de-semana, trazia umas refeiçõezinhas pré-cozinhadas, que ajudaram a fazer de mim este rapagão forte e robusto. De cada vez que lhes abria a tampa, sentia o cheiro do carinho paternal, venciam-se os 130 kms de distância, era, no fundo, como abrir a porta de casa.
Que niguém me gabe as virtudes dos postais ilustrados quando comparados com um tupperware cheio de feijoada ou jardineira! De que valem os correios ou os telefones ao pé deste tráfico sentimental de caixas que vinham de Tomar cheias de carinho e íam de Lisboa cheias de saudade e de vontade de reencontro?
Bastar-me-ia, portanto, um conjunto como o acima ilustrado: recipientes para memórias líquidas, fluídas e instáveis; recipientes para memórias sólidas e definitivas; e um escorredor para ali deixar que as más memórias fossem perdendo o azedume. Teria, assim, uma organização abstracta, incatalogável, mas de fácil utilização para quem, como eu, é tão avesso ao método. Com a vantagem decisiva de, a qualquer momento, poder aquentar o meu passado no micro-ondas...
Arrotos do Porco: