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Vareta Funda

O blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas


quarta-feira, outubro 06, 2004

Folhetim - dia 2

Estava o Carlos nesta iminência de desespero quando apareceu o Vítor no seu típico caminhar bamboleante. Gajo acanhado por natureza, disfarçava a timidez com uma cara de quem traz uma borbulha assanhada na virilha, mesmo onde o elástico do slip roça, mas bastava falar uns segundos com ele para que se desfizesse em sorrisos e amabilidades. Ganhava a vida com instalações de águas e gás, entre as quais passeava a discreta (quase receosa) esposa e o filho pequeno. Por sorte, eles não o acompanhavam hoje quando deu de caras com o improvisado velório que se montara à porta de minha casa.

- Então... que é que aconteceu?, perguntou com ar desconfiado.
- Não sei, vizinho. Cheguei aqui há bocado e dei com isto...
- Mas ele está doente? - quando a situação exigia, vinha ao cimo um traço de gaguez bem dominada.
- Qual!... Está morto!
- Morto?!? T-Tem a c-c-certeza?

O Carlos não disse nada, mas os ombros descaíram imperceptivelmente.

- Já chamou alguém?
- Não... não sei se chame uma ambulância já ou fale primeiro com a mulher dele.
- Eh, pá... isso é capaz de ser chato.
- Tá bem, mas ela vai ter que saber.
- Mas os tipos do INEM sabem falar com as pessoas e dar-lhes essas noticias. Estão sempre a fazer isso, é a vida deles.
- Acha? Não são os da polícia que fazem isso?
- Ora, tanto faz. Polícia, bombeiros, INEM...
- Mas olhe que se fosse eu preferia que a minha mulher soubesse por pessoas conhecidas.
- Oh, depois de morto deve fazer muita diferença...

O Carlos levantou devagar os olhos (que ainda não tinha tirado de mim) para o outro.

- Eh, pá... mesmo morto o homem merece respeito...
- Bah... era um cagão. Sempre muito simpático e educado, mas tenho a certeza que se julgava melhor que nós todos. Nunca se misturava c'a gente, nem vinha às sardinhadas no pátio...

"Se te entrasse pela casa o pivete que entrava pela minha também não ias às sardinhadas, cabrão...", pensei eu.

- Olhe que não, vizinho. O tipo era mesmo simpático.
- Sim, sim... lá porque a mulher é professora... olhe, nem me admirava nada que ela ficasse satisfeita com a notícia. Essa malta sente as coisas de maneira diferente, não julgue...
- Agora está a ser mauzinho. Eles davam-se bem, nunca ouvi uma discussão ou um berro que fosse em casa deles.
- Davam-se bem... há quem as faça pela calada, sabe?
- Credo, pá! Não tarda ainda me vai dizer que foi ela que o matou!
- Olha!... agora que fala nisso... de que é que ele morreu?
- Sei lá! Eu não sou médico!

Calaram-se os dois, mas os seus olhos fixaram-se com um misto de receio e suspeita na minha porta...

Arrotos do Porco:

Que cena mais marada. Não perecebi nada. Os teus posts andam muito esotéricos.


A coisa promete, Sr. Menir Christie Calém. Podemos tentar adivinhar quem te matou? Temos prémios?




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